quarta-feira, 3 de abril de 2013

saúde


Chorar também é um bom remédio


Se rir é realmente o melhor paliativo, debulhar-se em lágrimas de vez em quando é um ótimo calmante

por Samuel Ribeiro

Junte bastante água, jogue uma pitada de sal, um pouco — mas bem pouco mesmo — de muco e gordura. Acrescente emoção a gosto. Esses são os ingredientes básicos para quem quer lavar a alma. Seja na tristeza ou na alegria, por estar irado com alguém ou orgulhoso de outrem, nessas situações e em muitas outras o melhor a fazer é mergulhar o espírito num pranto sincero. Ir do marejar dos olhos ao transbordar em lágrimas faz com que nos sintamos mais leves. Algo que a ciência já tem como certo: ao chorarmos, liberamos substâncias químicas que proporcionam a sensação de alívio quase imediato. O efeito é desencadeado exclusivamente por cutucadas emocionais e não por estímulos físicos, como quando o globo ocular se irrita com aquela cebola cortada.
I
"As lágrimas provocadas pela emoção removem elementos acumulados nas horas de estresse. Elas, literalmente, põem tudo para fora", diz o neurocientista Willian Frey, da Universidade de Minnesotta, nos Estados Unidos, autor de um estudo que revela como funciona essa ação calmante. Fisgado pelos sentimentos, o cérebro fabrica certos neurotransmissores. Esses compostos passam de um neurônio para outro avisando que as glândulas lacrimais precisam ser contraídas. O choro começa.


.
"Quando entornamos a primeira gotícula, entra em cena a leucina-encefalina", ensina Frey. Como o nome entrega, esse mensageiro é produzido pelo encéfalo, a nossa massa cinzenta. Ele tem a função específica de nos anestesiar se sentimos fortes dores e também nos deixa um tanto entorpecidos, na maior paz. "A leucinaencefalina age como um ópio natural", descreve a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da extensão brasileira da International Stress Management Associantion — algo como Assossiação Internacional para o Gerenciamento do Estresse, numa tradução livre. Outra substância que divide as atenções é a prolactina, hormônio produzido na glândula pituitária, no meio do cérebro, quando aumenta a tensão. Com altas taxas de prolactina no organismo, as emoções ficam à flor da pele. Aí, chorar funciona como uma válvula de escape que manda o excesso do hormônio embora.

Sim, as lágrimas fazem bem. Mas não dá para chorar em todo canto, a qualquer instante. O excesso, assim como reprimir o líquido, deixa na cara que as coisas não estão bem. "Chorar a perda de um parente ou por causa de um problema financeiro é justificável. Já por coisas pequenas, como perder um ônibus, não faz sentido", comenta Ana Maria. O choro franco é a emoção em gotas e, quando elas escorrem por qualquer razão, é sinal de que a pessoa está descompensando suas emoções. "Pode até ser indício de uma depressão severa", exemplifica a psicóloga Junia Cicivizzo Ferreira, especialista em psicologia comportamental pela Universidade Federal de São Paulo. "Pôr o sentimento para fora e chorar não são a mesma coisa", lembra Junia. Quem chora pode ser passivo ou nem sequer se dar conta do motivo, enquanto que demonstrar sentimentos exige que o indivíduo entenda o que se passa consigo. "Daí, se houver um problema a ser resolvido, ele é capaz de tomar uma atitude", conta Junia.



Nenhum comentário:

Postar um comentário